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A recente declaração do vice-presidente geral do Flamengo, Rodrigo Dunshee, sinalizando para a possibilidade de o clube se transformar em sociedade anônima do futebol (SAF) pode ser o início de um verdadeiro terremoto sob o ponto de vista financeiro no recém-criado mercado do futebol no Brasil.
Isto porque a marca Flamengo tem sido, já há alguns anos, sinônimo de hipervalorização. Além de alcançar um faturamento anual de R$ 1 bilhão, o clube é, de longe, o mais popular do país, com cerca de 40 milhões de torcedores. O reflexo aparece dentro das quatro linhas, com um time forte que vem conquistando ou ao menos disputando títulos importantes desde 2019.
Essa combinação é tudo com o que sonham os mega investidores. Tanto que já surgem especulações sobre o interesse do multibilionário Nasser Al Khelaifi, dono do PSG, em adquirir o clube carioca. “Uma eventual conversão do Flamengo em SAF movimentaria o mercado de uma forma como ainda não foi visto. Seria a abertura para negociar a marca mais valiosa do futebol brasileiro, o que nos daria um parâmetro mais real do valor dos nossos clubes”, analisa Elthon Costa, sócio-diretor das Relações de Trabalho e Desporto da Todde Advogados.
O escritório, por sinal, tem autoridade quando o assunto é SAF, uma vez que vem liderando o processo de transformação em alguns clubes do futebol brasileiro. Ao observar o mercado, o jurista crava que a adesão do Flamengo pode ser um novo divisor de águas. “É possível concluir que a SAF já deu certo. Mas esse primeiro ano da lei 14.193, que legaliza o instrumento, tem sido marcado por muitas especulações. É um processo natural, pois os dirigentes dos clubes não têm uma noção exata do valor de suas agremiações, e na verdade os investidores também não”, revela Elthon Costa.
Para o diretor da Todde Advogados, dificilmente haverá nesta primeira entrada de capital um investidor que disponha a pagar mais do que podem vir a oferecer ao Flamengo. “Temos outras grandes marcas, como a do Corinthians, que tem a segunda maior torcida do país, mas que não vive um momento político e econômico tão promissor. O Brasil tem o privilégio de contar com muitos clubes de massa, mas nenhum deles, pelo menos hoje, reúne condições tão favoráveis como a do Flamengo”, analisa.
Transformação
Elthon Costa lembra que o processo de transformação da SAF deve passar pelo crivo do Conselho Deliberativo dos clubes. O processo consiste em separar o futebol, que é a atividade-fim dos clubes, de outros produtos ligados à associação. “As associações que regem quase a totalidade dos clubes de futebol do país são entidades sem fins lucrativos. Isso dá espaço para gestões irresponsáveis, que acabam por deixar os clubes em estado de insolvência”, diz o advogado da Todde Advogados.
“A SAF vem justamente para profissionalizar a gestão do futebol e garantir o pagamento de dívidas altíssimas, que por muito tempo eram jogadas para debaixo do tapete. É um movimento de moralização do futebol brasileiro, que permite agregar novos modelos de gestão, agregando governança e compliance. É uma nova era para o futebol brasileiro”, conclui.
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